Para Educar é necessário definir a intencionalidade

 Por:  Eleonora Cavalcante    

O ENEM propõe uma avaliação de larga escala com vistas a analisar o nível de domínio de competências dos estudantes que concluem a Educação Básica. É uma proposta interessante, contemporânea, que acredita que o processo de educar não deva se deter em mecanicismos, mas em proposições dinâmicas que garantam apreender habilidades diversificadas, que entrelaçadas com os conceitos curriculares possam favorecer uma aprendizagem contínua, para a vida toda, capaz de possibilitar a aplicação do conhecimento em situações concretas, entendendo-o dentro de uma rede de inter-relações, onde dados e fatos se comunicam e definem os mais diversificados contextos que os cidadãos devem atuar efetivamente.

Dessa forma, o ENEM é importante para referenciar a nossa prática, não de forma mecânica, que apenas confirma que as questões propõem a análise de um pequeno texto e um enunciado mínimo, com a solicitação da escolha de uma única opção correta. NÃO! Não é isso! Cuidado! Por trás dessas questões aparentemente fáceis de serem elaboradas, existe uma intencionalidade clara, que é a de verificar se os estudantes realmente são capazes de transpor e aplicar os seus conhecimentos em diversificados contextos, partindo de uma análise complexa, que exige a busca pelas “entrelinhas”, daquilo que não está no texto, mas que de alguma forma se relaciona, exigindo uma linha de pensamento e raciocínio específica.

Portanto, é bom que se entenda que preparar os estudantes para o ENEM não deve se restringir a uma semana com prioridade para questões do Tipo C (única opção correta). Mais do que isso, depende de proposições de atividades dinâmicas, que promovam a interação entre aprendentes e objetos de estudo, que gerem possibilidades para aprender a interpretar, a planejar, a executar e a criticar, conforme prioriza a proposta de avaliação seriada da UNB-PAS.

É fundamental que se entenda que uma proposta de avaliação de larga escala deve nos iluminar a refletir sobre a nossa prática de sala de aula, levando-nos a compreender que para aprender de forma significativa, não basta que os estudantes ouçam a nossa fala durante as aulas, pois não é somente o conteúdo conceitual do nosso componente curricular que importa, mas o legado que podemos ofertar-lhes em termos de competências.

De nada vale ser um professor que se expressa bem, que domina os conteúdos a serem ministrados se não houver a intencionalidade de apoiar os estudantes a desenvolverem as suas potencialidades de forma plena. Talvez o nosso componente curricular proponha conteúdos que nunca mais serão vistos por alguns estudantes no Ensino Superior e na vida profissional, mas se tivermos realizado um trabalho que o extrapole, com procedimentos didáticos que promovam habilidades e competências, conforme propõe a matriz do ENEM, teremos cumprido a nossa missão de educar.

O ENEM, assim como outras siglas que propõem avaliações de larga escala priorizam questões objetivas porque esse é a proposta mais viável, mas para ensinar os estudantes a aprender a aprender é necessário contemplar outras possibilidades metodológicas e avaliativas, com produções de ordem mais subjetiva e que validem diversificadas linguagens, que podem ocorrer por meio do teatro, da dança, do desenho, das tecnologias midiáticas, dos seminários, dos gestos, entre outras.

Que o ENEM aponte caminhos para que as escolas da Educação Básica possam intervir assertivamente nos processos educacionais, sem se tornar um elemento que engessa, pois com certeza, essa não é a intenção.

 

A autora deste texto é Diretora Educacional da PES e realiza palestras em relação aos impactos que o ENEM tem gerado sobre as escolas de Educação Básica e de que forma os educadores devem usá-lo como referência para uma educação de qualidade, sem engessar o processo. 

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