Por: Eleonora Cavalcante

Hoje, mais do que nunca, educar é uma missão complexa, uma vez que envolve muito mais do que exigir que crianças e adolescentes obedeçam às ordens dos adultos. O mundo em que vivemos atualmente está recheado de estímulos que cooperam para definir comportamentos diversificados, que em outras gerações não existiam.

Não estamos numa era de rebeldia explícita como nos anos 60 e 70, ao contrário, existe certa apatia por parte de crianças, adolescentes e jovens em relação à percepção do que podem vir a representar para um mundo marcado pelas injustiças das mais diversas ordens, que termina por excluir a grande maioria das pessoas para privilegiar minorias.

Educar, hoje, significa optar por um sistema de valores a partir de uma ética estabelecida no seio familiar.

Mas embora existam diversificadas culturas familiares que definem formas de educar variadas, é necessário que se entenda que valores humanitários devem ser ensinados aos
filhos, pois dessa forma as novas gerações serão capazes de repensar todos os erros que a humanidade tem cometido contra si mesma. Solidariedade, respeito às diferenças, honestidade e cultura de paz são valores que podem ser ensinados por meio de exemplos, de atitudes de quem se propõe a educar.

As crianças e adolescentes absorvem valores por meio da percepção das atitudes que os adultos que lhes servem de referência (principalmente os pais) assumem diante das situações do dia-a-dia. Por esse motivo, é comum observar-se nas escolas, crianças e adolescentes agressivos ou apáticos quando vivem em famílias desestruturadas, com pais violentos ou sem condições de dar-lhes afetividade e segurança.

Reconhecer que as coisas mudam com o tempo também é importante para que os pais e educadores possam educar com efetividade. Aquela expressão “naquele tempo isso não acontecia” não impacta positivamente a relação entre quem educa e quem se pretende educar. Na educação formal, que envolve o ensino de conceitos e habilidades, por exemplo, não adianta esperar que crianças e adolescentes que utilizam a WEB diariamente e que têm às suas disposições, variados recursos midiáticos, consigam ser motivados por procedimentos didáticos monótonos, como é o caso de aulas em que os professores utilizam apenas o quadro de giz e exposição oral para apresentar conteúdos, muitas vezes descontextualizados, que não fazem sentido para eles.

Muitas vezes os pais precisam abrir mão de alguns princípios que serviram de base para a educação que receberam enquanto crianças e adolescentes. A sociedade está em constante evolução, as coisas mudam e cada geração traz consigo os efeitos dessa roda viva que é a vida. Em décadas passadas era inviável para inúmeras famílias conceberem um namoro com os namorados dormindo juntos na própria casa de um deles. Hoje, isso tem acontecido com frequência, pois alguns pais acreditam que dessa forma podem preservar a segurança dos filhos.

Qualquer tipo de violência contra as crianças e adolescentes não serve para educá-los, pois apenas gera revoltas, indignações e pode traumatizá-los para o resto da vida. Um diálogo aberto, com argumentação consistente, é a melhor opção, pois dessa forma eles se sentem parte integrante da construção de suas próprias vidas. Não se educa à força ou em razão de um medicamento empurrado “goela abaixo”, mas somente quando o educando se deixa educar porque compreende e aceita as razões da ação educativa.
“Saber dizer não na hora certa e de forma correta, também pode fazer a diferença na educação dos filhos. Não ceda à chantagem emocional.”

Embora não existam receitas para se educar os filhos, algumas ações podem facilitar a difícil missão:

  1. Entrar em consenso sobre os valores que pretendem transmitir aos filhos, a fim de adotar uma linguagem comum, coerente com que acreditam e fazem.
    Quando um dos dois (pai ou mãe) disser não, tem que ser não,
    pois os filhos tiram proveito da situação quando percebem queos pais se contradizem.
  2. Informar aos filhos sobre os seus direitos e deveres. Como equando podem fazer determinadas coisas. Tem que ficar estipulado o momento adequado para cada situação: estudos, brincadeiras, pequenas obrigações domésticas, etc.
  3. Não dar tudo o que os filhos querem, ao contrário, discutir sobre o que é importante consumir, pois quando as crianças e adolescentes internalizam que sempre terão tudo o que querem à sua disposição, não conseguem enfrentar situações de frustração.
  4. Definir regras de convivência, o que se deve fazer e o que não pode ser feito porque não é aceitável em razão do sistema de valores da família. Os filhos devem ter claro que à medida que não cumprem o que foi combinado, perdem alguns privilégios, que podem ser reconquistados se forem capazes de repensar e assumir atitudes aceitáveis.
  5. Aproveitar momentos do cotidiano para dialogar com os filhos, utilizando exemplos de vida para contextualizar os valores que pretendem ensinar. Por exemplo, para garantir a um adolescente a compreensão sobre a importância de investir na sua formação acadêmica, é importante falar de pessoas que tiveram sucesso na vida porque soubera m aproveitar as oportunidades e citar situações contrárias.
  6. Informar aos filhos sobre o mundo em que vivem, mostrando as diferenças existentes entre as pessoas em razão de nível social e de outros aspectos, conscientizando-os sobre a importância do exercício da cidadania para amenizar problemas que afetam variadas comunidades.
  7. Conscientizar os filhos sobre os riscos a que estão sujeitos em razão do uso da WEB, orientando-os sobre a utilização correta, além de outros, que muitas vezes eles não conseguem visualizar por falta de maturidade.
  8. Criar um clima afetivo na família. Tratá-los com amor e respeito, sem realizar comparações entre um e outro. Procurar agir com justiça, defendendo-os quando perceberem que têm razão e levá-los a assumir seus erros quando realmente falharam.
  9. Evitar expor os filhos na frente dos outros. A chamada de atenção deve ser feita em ambiente familiar, pois assim eles não se sentirão constrangidos.
  1. Fazer o que prometem fazer, pois o não cumprimento dos combinados os leva a acreditar que eles também não precisam assumir o que prometem.
  2. Não mentir nunca aos filhos. Falar a verdade em qualquer situação, pois tal atitude gerará confiança.
  3. Reconhecer que não são perfeitos e que às vezes erram. Ser capazes de pedir desculpas aos filhos evoltar atrás em relação a decisões equivocadas.
  4. Ouvir o que os filhos têm a falar, considerar seus argumentos a favor do que acreditam e a partir daíentrar em consenso.
  5. Ter a capacidade de avaliar os procedimentos adotados para educar os filhos, retomando emodificando aqueles que não surtiram os efeitos esperados.

Quando crianças e adolescentes se sentem amados, respeitados em seus direitos, orientados a partir de argumentos que os convencem, conseguem se desenvolver de forma saudável e tranquila, e normalmente se tornam adultos seguros, confiantes, preparados para os desafios impostos pela vida atribulada de uma era em constante ebulição. A missão de educar é complexa, exige persistência, coragem e paciência. Ao educar, o adulto também se educa, porque vai aprendendoa lidar com os seus medos e se torna corajoso ao sentir que está fazendo a diferença na vida de um ser que se deixa educar.