Pode ser um bichinho de pelúcia ou alguém que você não enxerga: até por volta dos seis ou sete anos de idade, muitas crianças criam para si mesmas amigos imaginários. São companheiros para conversar, para dormir junto, para brincar. Algumas vezes os filhos falam sobre eles e pedem a participação dos adultos na brincadeira. Em outras, reservam esse direito apenas para si mesmos.

Embora alguns pais fiquem preocupados com isso, a figura do amigo imaginário é normal nessa fase da infância. “As crianças criam amigos imaginários para poder expressar ao mundo externo o que sentem internamente. Além disso, os companheiros imaginários muitas vezes também as ajudam a superar situações que as desconfortam, como o divórcio dos pais, a perda de alguém querido ou a gravidez da mãe”, explica Maria Edna Scorcia, diretora pedagógica do Colégio Joana D´Arc, em São Paulo.

Por que as crianças criam amigos imaginários?

Até por volta dos sete anos as crianças vivem uma fase de muita fantasia. O fantástico e o real se confundem com bastante frequência. “Tanto é assim que as crianças acreditam nas mais variadas figuras dos contos de fadas, como a bruxa ou a fada. O amigo imaginário é uma criação sua”, afirma a psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia Maturano. “Porém, como os pequenos não criam coisas do nada, o amigo imaginário é sempre “alguém” que vem ao encontro de alguma necessidade sua. De qualquer forma, os pais não devem encarar isso como algo preocupante”, explica.

Qual a importância do amigo imaginário para o desenvolvimento da criança?

Conversar e interagir com o amigo imaginário funciona para a criança como um treino para as situações futuras de relacionamento com outras pessoas, conforme explica Maria Edna Scorcia, diretora pedagógica do Colégio Joana D´Arc. É uma amizade que auxilia no exercício do diálogo e da criatividade. Os adultos também têm uma ferramenta parecida com a do amigo imaginário, que é o hábito de falar sozinhos. “Falar sozinho é um treino, um exercício para lidar com alguma situação”, diz.

Em qual idade é mais comum acontecer de a criança ter amigos imaginários?

Não existe uma idade exata para iniciar ou terminar a experiência do amigo imaginário. “Afinal, cada criança é uma”, conforme lembra a psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia Maturano. Mas o que se pode dizer é que o mais comum é que a figura do companheiro invisível apareça depois que a criança aprenda a falar. “Antes de ter a capacidade de verbalizar, ela não consegue criar essa “ferramenta” do amigo imaginário”, afirma Maria Edna Scorcia, diretora pedagógica do Colégio Joana D´Arc.

Os pais devem entrar na fantasia da criança?

Os pais devem agir naturalmente. Podem entrar na fantasia da criança, mas sem botar muita lenha na fogueira, conforme orienta Maria Edna Scorcia é diretora pedagógica. “Dar força a isso ou ignorá-la e criticá-la completamente pode ser prejudicial, já que o amigo imaginário é uma expressão da criança”.

Quando a criança deixa o amigo imaginário?

“Assim como o amigo imaginário vem, ele vai: de maneira espontânea. E, é claro, o momento varia de criança para criança”, afirma a psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia Maturano. Segundo Maria Edna Scorcia, diretora pedagógica do Colégio Joana D´Arc, as crianças costumam deixar os amigos imaginários para trás quando são capazes de lidar sozinhas com as questões que as levaram a criá-los. Mas o mais comum é que os companheiros invisíveis desapareçam até os sete anos de idade.

Os pais devem determinar quando é hora de a criança deixar o amigo imaginário?

Não, essa tarefa não cabe aos pais. Eles devem deixar a criança fazer isso sozinha. “Os pais não participam da despedida do amigo imaginário. Isso é algo que a criança faz sozinha quando se sente preparada”, diz Maria Edna Scorcia, diretora pedagógica do Colégio Joana D´Arc.

E se o amigo imaginário persistir quando a criança for mais velha? Os pais devem se preocupar?

Se os amigos imaginários persistirem além dos nove ou dez anos, os pais devem ajudar a criança a confrontar a sua fantasia com a realidade, mostrando que o amigo imaginário não passa de uma criação sua. “Uma criança desta idade já tem um desenvolvimento cognitivo que não condiz com esse tipo de criação. Se ele persistir, os pais devem dar elementos da realidade que confrontem sua imaginação. Caso ainda persista, seria conveniente procurar a orientação de um psicólogo”, orienta a psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia Maturano. O fato de a fantasia continuar quando a criança já é crescida pode indicar dificuldades e inseguranças em lidar com seus problemas sozinha, conforme diz Maria Edna Scorcia, diretora pedagógica.

Algumas crianças não têm amigo imaginário, mas gostam de falar sozinhas. Isso é um problema?

Falar e brincar sozinho tem a mesma função de treino de diálogo e criatividade proporcionado pelos amigos imaginários. “Contanto que a criança não deixe de ficar com outras crianças para ficar em seu mundo de fantasias, não há problemas”, diz Maria Edna Scorcia, diretora pedagógica do Colégio Joana D´Arc. A psicóloga e psicopedagoga Ana Cássia Maturano acrescenta que na brincadeira, as crianças falam ou inventam situações em que há diálogos, onde ela própria protagoniza vários papéis: “Algumas crianças brincam sozinhas. Isso é normal e até saudável, desde que não seja a única forma dela brincar”. Por vezes, elas não querem também dividir com os adultos ou contar sobre os diálogos que têm consigo mesmas. Os pais nesses casos não devem interferir. “Todo mundo tem sua intimidade, as crianças também”, diz Ana Cássia.

Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/conheca-amigo-imaginario-seu-filho-739582.shtml