Este texto destina-se a adolescentes e jovens e pode ser utilizado por professores.

O título deste texto foi inspirado pelo da música de Renato Russo, intitulada “Que país é esse?”. É que quando penso no nosso país, como bem explica a canção, lembro-me que ele é assim por causa de um perfil cultural brasileiro, infelizmente quase sempre marcado por valores que presenteiam atitudes desonestas, de conformismo diante do seu próprio contexto de subdesenvolvimento, onde a injustiça social é a principal característica.

Se o país é assim, com representantes do povo envolvidos com falcatruas e outras coisas típicas de corruptos, deve ter algo que o justifique. É só pensar na lei natural das coisas, na lógica. Se alguém armazena frutas em local pouco arejado e as deixa por um longo tempo sem refrigeração, a tendência é que apodreçam todas, não apenas uma. Os políticos são de um mesmo ambiente, portanto são frutos do meio social, e com certeza fazem parte de uma cultura. Em geral, se são desonestos, com certeza outras pessoas que não ingressaram na política também os são.

Diante da lógica das coisas, podemos concluir que os fatos dependem de atos, e atos dependem de valores coletivos, que por sua vez induzem as pessoas a atitudes individuais que alimentam o ciclo familiar e social.

Muitas coisas precisam ser mudadas no Brasil, mas não em função de uma lei, ou de uma ordem baixada por alguém que detenha certo poder. Culturas não podem ser impostas, elas precisam ser construídas em cada espaço de vivência, com o apoio essencial das escolas, que dependem das famílias, dos professores e de todos os outros indivíduos que fazem parte das várias comunidades do país.

Quando penso em mudança de cultura, penso logo em pré-adolescentes, adolescentes e jovens. Muitas das imagens que me vêm à mente me deixam triste porque elas retratam em algumas das vezes rostos alienados, sem expressividade, sem vontade, sem opinião, sem solidariedade, sem respeito para com os outros, com um grande descompromisso para com a própria vida. Outras vezes vejo rostos tristes, de pessoas discriminadas por serem diferentes daquelas julgadas “convencionais”, mas que com certeza poderiam contribuir em muito para o crescimento coletivo.

É necessário sermos otimistas, acreditarmos que tudo pode mudar para melhor, mas também precisamos ser realistas para entendermos que só a mudança de atitudes de todos poderá fazer a diferença para que possamos nos orgulhar do nosso próprio país.

Essa mudança começa na nossa casa, quando passamos a ser conscientes de que não devemos esperar que os nossos pais realizem tudo por nós, pois temos que assumir a nossa parte, entendendo que nada cai do céu. Precisamos nos esforçar para progredirmos enquanto pessoas, enquanto seres humanos íntegros, honestos, solidários e desprovidos de qualquer tipo de preconceito que possa vir a ser elemento de discriminação ou segregação de outros indivíduos.

Essa mudança continua na escola, precisamente na sala de aula, quando entendemos que a qualidade do ensino que recebemos é diretamente proporcional ao nosso nível de interesse e compromisso para com os estudos; quando percebemos que aprender não significa apenas memorizar aquilo que cairá na prova, mas principalmente tudo aquilo que nos garantirá atuação enquanto cidadãos e profissionais.

O valor que precisamos achar não se compra e nem se vende. Ele está em todos os lugares, em todos os momentos e se encontra disponível para todos. Para tê-lo é necessário ter a coragem de abdicar de velhos hábitos que geram violência, injustiças, desrespeito; é necessário acreditar que ninguém pode viver bem em um contexto onde a maioria vive muito mal.

O valor que buscamos está guardado dentro de cada um de nós. Ouse encontrá-lo, explicitá-lo, dividi-lo com os seus amigos e até com os não tão amigos assim…

Quem sabe, um dia, ainda tenhamos outra música com o mesmo título da canção do Renato Russo, porém com um conteúdo completamente diferente, elogiando o país que nós vivemos, e logicamente a nós mesmos, por termos conseguido superar valores que alimentam o subdesenvolvimento.

Para Discutir:

1. Qual a principal mensagem que o texto nos traz?

2. Por que a autora do texto faz comentários sobre a canção de Renato Russo, intitulada Que país é esse?

3. O trecho “Muitas coisas precisam ser mudadas no Brasil, mas não em função de uma lei, ou de uma ordem baixada por alguém que detenha certo poder” quer dizer o quê?

4. O texto nos leva a pensar que os políticos são corruptos em função de uma cultura nacional que privilegia atitudes desonestas. Você concorda com a idéia? Comente.

5. Explique o trecho: “Quem sabe, um dia, ainda tenhamos outra música com o mesmo título da canção do Renato Russo, porém com um conteúdo completamente diferente, elogiando o país que nós vivemos, e logicamente a nós mesmos, por termos conseguido superar valores que alimentam o subdesenvolvimento”.

6. O que fazer para que adolescentes, assim como vocês, possam ser pessoas íntegras, honestas, solidárias e desprovidas de qualquer tipo de preconceito que possa vir a ser elemento de discriminação ou segregação de outros indivíduos?

Por: Professora Eleonora Cavalcante